quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Dia de Feira #1 - Feira da Praça XV


Sábado. Sete horas da manhã. Formando cerca de quatro corredores largos e paralelos de bancadas, lonas e pessoas, as humildes barracas terminam de tomar conta da extensão sob o viaduto da Perimetral que vai da Praça XV, na altura das barcas, até a área em frente ao Museu Histórico Nacional. Enquanto algumas poucas tendas se encontram com suas mercadorias devidamente expostas, à espera de ávidos compradores, a maioria ainda está vazia. Frágeis estruturas de madeira terminam de serem montadas aqui e ali; bancadas são forradas por plásticos e toalhas de mesa coloridas ou estampadas; grandes maletas, bolsas e caixas de papelão são carregadas para todas as direções e seus interiores são pouco a pouco esvaziados pelos vendedores. Na ponta dos corredores mais próxima da área das barcas, vans descarregam engradados de cerveja e refrigerante, mesas e cadeiras são espalhadas por um largo espaço vazio e um senhor arruma diferentes garrafas de molhos enquanto um rapaz caminha em sua direção, abraçado a quatro enormes sacos de pães. Vinte minutos depois, o gari termina de atender aos últimos pedidos de limpeza, as cadeiras de praia dos vendedores são abertas atrás ou ao lado das bancadas e a chaminé do forno com rodinhas, próximo a placa “pizzas e empada na lenha”, solta seus primeiros sinais de fumaça: a tradicional Feira da Praça XV já está a todo vapor.



Ao entrar na feira surgida em meados da década de 70, quando era conhecida como Feira de Trocas, a primeira coisa que salta aos olhos é a variedade de objetos que ela oferece ao seus visitantes: roupas, sapatos e chapéus; cds, vinis, dvds e fitas cassete; cartões postais, selos e moedas de diferentes países; livros usados, revistas em quadrinhos antigas e velhas edições da extinta revista Manchete; enfeites de cerâmica, madeira e plástico; molduras e pinturas; pratarias, jogos de pratos e faqueiros; telefones e radinhos a pilha retrôs; qualquer artigo relacionado à Coca-Cola e à Pepsi; artigos militares, como capacetes, jaquetas camufladas, canivetes, facas e insígneas; artigos futebolísticos como camisetas, broches, cartões, faixas e antigas entradas para finais de copas do mundo; brinquedos, muitos brinquedos, dos mais variados tipos, tamanhos e idades. Novos ou usados, todos esses artigos estão espalhados pelas mais de 50 barraquinhas e bancadas do local, tornado dificil uma caminhada de mais de 5 minutos sem que você esbarre em pelo menos uma coisa que PRECISE comprar.









Os preços das peças em geral são bem acessíveis, mas variam bastante. Pode-se sair de lá com mais de 5 artigos gastando um total de 10 reais, ou uma única peça comprada por mais de 200 reais. De qualquer modo, “negociação” é palavra de ordem na dinâmica da Feira da Praça XV. Sem dinheiro? Nenhum problema. É corriqueiro encontrar vendedores dispostos a trocar qualquer tipo de item por algum que você ofereça. Com um pouco mais de tempo e atenção é possível encontrar verdadeiros tesouros e relíquias, e levá-los para casa por um custo ínfimo. Em parte, isso é explicado pelo perfil da maioria dos vendedores do local:

- Muitos dos vendedores da feira vendem objetos por necessidade. É possível encontrar alguns vendedores profissionais, mas a maioria é amadora: um dia vendem uma coisa, outro dia outra. Não há especialização. São pessoas que já tiveram uma boa situação financeira algum dia e agora, pela necessidade, se desfazem das posses de suas famílias. Mas é dificil haver algum feirante que vive só da feira. Muitos possuem outra renda, como aposentadorias _ explica Serge Michel, francês e um dos poucos feirantes “profissionais” especializados. Ele trabalha na feira há 10 anos e hoje vende exclusivamente artigos militares, como capacetes, máscaras de gás, medalhas, etc.

Mais do que objetos, muitas das barraquinhas parecem vender pura nostalgia. A quantidade de brinquedos e artigos antigos é tão absurda que a possibilidade de, a cada dez passos, você encontrar algo que fez parte da sua infância é imensa. Você está andando distraídamente e BANG! Lá está aquele super castelo dos Thundercats que seu vizinho tinha e que você sempre invejou. Vira-se para a esquerda e encontra toda a coleção de leõezinhos de Kinder Ovo pelos quais você sempre esperava que viessem como surpresa. Vira-se para a direita e lá está um balde repleto por geloukos roqueiros da Coca-Cola por módicos 50 centavos cada. Dez metros a frente e você esbarra com uma caixa repleta de bonecos Comando em Ação e SOS Comandos, juntos a dezenas de arminhas e equipamentos de guerra. É de querer levar tudo pra casa, espalhar pelo chão da sala e começar a brincar. Acredito ser obrigação de todo pai levar seu pequeno pelo menos uma vez na vida nessa feira: você poderá empanturrá-lo de bonecos e carrinhos gastando no máximo uns 10 reais e evitar que ele abra o berreiro na próxima visita ao shopping porque cismou que quer um novo brinquedo qualquer.



Se depois de toda a andança, barganha e nostalgia você estiver com fome, é só se dirigir para a “praça de alimentação”, na ponta da Praça XV da feira. Lá você encontra refrigerantes, pizzas, empadas, biscoitos e sanduíches de línguiça e cebola (cozinhadas na água para ficarem mais sequinhas). Enquanto se alimenta é possível sentar-se à uma das mesas espalhadas por ali, descansar as pernas, fazer um balanço do que você já comprou e do que ainda falta.





A Feira da Praça XV não é programa para um dia só. Ela começa a ser montada por volta das 5h da manhã, todo o sábado, e rola até umas 14h da tarde. As chances de encontrar verdadeiros tesouros são maiores quanto mais cedo você chegar. É impressionante a sensação de que quanto mais coisas você encontra, mais tem para encontrar. Por isso, é altamente recomendável fazer de sua visita ao local um hobby. Na pior das hipóteses, a feira é sua chance de se livrar daquele monte de tralha que você insiste em guardar em caixas em cima de algum armário. Lá você não só poderá conseguir algo útil em troca, como possívelmente verá alguns filmes mentais sobre a sua infância.



Um comentário:

Isabela Fraga disse...

Momento nostalgia: eu tinha todos aqueles leõezinhos do kinderovo