segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Dia de Feira Recomenda #2

Mercadão de Madureira

Ainda que conte com uma infra-estrutura que o aproxime mais perto de um shopping do que de uma feira, o Mercadão de Madureira, por seu tradicionalismo e história, não pode deixar de figurar numa lista de feiras recomendadas. Surgido em 1914,o primeiro Mercado de Madureira tinha exatamente o formato de uma feira livre convencional, onde eram vendidos produtos agropecuários. Após várias expansões, o Mercado passou a ocupar seu atual endereço, na Avenida Edgar Romero, 239, e a chamar-se Mercadão de Madureira. No ano de 2000 o ele foi destruído por um incêndio, mas resurgiu no ano seguinte com novas instalações modernas, trazendo conforto e segurança a seus visitantes.

Atualmente o Mercadão conta com mais de 580 lojas, espalhadas por dois andares e que vendem os mais variados produtos, de alimentos a flores e souvenirs. A dica fica para visitar o local na época da páscoa, onde a grande maioria dos chocolates podem ser encontrados por preços mais em conta do que nos grandes supermercados e shoppings.

Endereço: Avenida Edgar Romero, número 239.
Visitação:
Segunda à Sexta de 6:00 às 19:00h / Sábado de 7:00 às 14:00


Feira de Itaipava

Feirinha de Itaipava virou sinônimo de feirinha de roupa e tralha paraguaia, daquelas que todo o bairro tem uma. Entretanto, a original só ocorre, pasmem, na cidade de Itaipava, terceiro distrito do município de Petrópolis, a 15 km do centro histórico. A feira é famosa pela variedade em moda masculina, feminina, íntima, praia e infantil, tudo a preços de fábrica. Mas nem só de pano ela vive. Em seus mais de 390 stands também podem ser encontradas muitas peças de artesanato local, entre outros artigos. Provávelmenete depois de conhecer essa feira você pensará duas vezes ao se referir a da esquina da sua casa como Feira de Itaipava.

Endereço: Na entrada de Itaipava, no Km 63 da rodovia BR040, pra quem vai do Rio de Janeiro.
Visitação:
Sexta-feira, das 13:30hs às 18hs, funcionando parcialmente só com alguns stands. Sábado, domingo e feriados, das 10:00hs às 19hs, todos os stands.

Feira das Yabás

Samba e comida. Assim é a Feira das Yabás, também conhecida como Feira Gastronômica do Samba, que ocorre todo segundo domingo de cada mês, na Praça Paulo da Portela, em Oswaldo Cruz, em frente a Portelinha. Nela, diversas agremiaçõs de escola de samba se reunem para vender, cada uma em sua barraquinha, o melhor da gastronomia suburbana: rabada, bóbó de camarão, peixe frito, cozido de peixe, vaca atolada, angu a baiana. Tudo com preços que vão até no máximo R$8,00. E pra ajudar a comida descer melhor, às 14h começa uma roda de samba, comandada por Marquinhos de Oswaldo Cruz, e que sempre recebe um convidado a cada edição. Programa gastronômico bom, barato e de qualidade.

Endereço: Praça Paulo da Portela, Oswaldo Cruz.
Visitação: Todo o segundo domingo do mês, a partir do meio-dia (a roda de samba só às 14h).


Feira Cultural da Fotografia e Imagem

Pros amantes de fotografia (e quem não é?) acontece todo último domingo do mês, nos jardins do Museu da República, a Feira Cultural da Fotografia e Imagem, que reúne o trabalho de profissionais, amadores e colecionadores de tudo que é relacionado a fotografia. Mas nem só de exposição a feira se mantém. Nela também ocorrem workshops, palestras e projeções sobre o tema. Além disso, toda edição há um palestrante convidado falando sobre seu trabalho e da prática da fotografia profissional.

A Feira Cultural da Fotografia e da Imagem é organizada com o apoio da Associação Brasileira de Arte Fotográfica (ABAF), da ARFOC (Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro) e da revista Photo Magazine. A entrada é franca.

Endereço: Rua do Catete, 153 - Catete
Visitação: Sempre no último domingo do mês, das 10h às 17h.

Crônica de Feira #1 - Das Feiras

Feira é um lugar de cores, cheiros, sabores. E lembranças. Transborda saudosismo nas tradições de um povo que encontra um gueto onde se perpetuar, nas antiguidades de família que se põe à venda por necessidade, no hábito comercial antiqüíssimo que remete às trocas e se alimenta das pechinchas.

Na Feira de São Cristóvão a gente acha bonito ter um lugar pra preservar a cultura nordestina, a cultura brasileira, a nossa cultura. A gente come aipim com carne de sol a preços módicos, dança forró como gringo no samba e ri das esculturas, das xilogravuras, das historietas da literatura de Cordel. Vamos à Feira de São Cristóvão e batemos no peito o orgulho de ser brasileiro, de nossas raízes nordestinas; dever cívico cumprido. Saindo dali, acima da Bahia é Paraíba, nordestino é porteiro ou pedreiro semi-analfabeto, Rio das Pedras um ponto em Jacarepaguá que só faz embaralhar o trânsito e programa cultural que acrescenta é o novo filme de Woody Allen no shopping com ar-condicionado e réplica da estátua da liberdade. O domingo na Feira foi uma incursão a um submundo cultural que deve ficar restrito àquela realidade. Lugar de forró, repentista, aipim e sotaque diferente é na “Feira dos Paraíbas”, no cercadinho azul em São Cristóvão que a Prefeitura gentilmente lhes cede em troca de um aluguel popular.

Na Feira da Praça XV a gente acha divertido a quantidade de quinquilharia à venda: tem boneca sem olho, sem braço, sem perna, até sem cabeça!; tem telefone vermelho, em forma de fruta, em forma de carro, em forma de qualquer propaganda imaginável, até que não funciona!; tem prataria, prato, jarra, taça de vinho, taça de água, talher de peixe, talher de sobremesa, até pra quem não come nada! Agora dá pra entender as placas de “Compra-se antiguidades”, mesmo que o que se venda seja apenas velho. Mais divertido é poder chegar a um preço junto com o vendedor. Porque na Feira da Praça XV muitas vezes valor não dita preço, então tanto faz se esse anel foi de toda a geração da família de alguém, se a foto desse broche é o único registro da avó morta desse senhor ou se essa senhora tinha muito apreço pela prataria francesa de sua mãe. No Brasil, quem faz o preço é a fome do vendedor. A Feira da Praça XV é chamada de Antiquário por alguns, mas são poucos ali os que têm apreço pelas antiguidades. Vendem-nas somente porque alguém as compra e assim se sustentam. É a oposição de quem vende por necessidade a quem compra por ostentação. Mais divertido é continuar andando pela Praça XV e chegar onde não tem mais barraca, onde o mostruário é colocado no chão mesmo, sobre um pano não raro imundo. É o lugar dos “sem-teto”, os que não têm 15 reais para dar ao organizador da Feira. Ali é muito engraçado, se vende qualquer coisa achada no lixo: um pé de sapato usado, 12 embalagens de xampu vazias, rádios de carros roubados. Essa não-Feira dá quase o dobro de tamanho da Feira Oficial, mas movimenta bem menos dinheiro. Ali estão os que não têm mais necessidade de nada, são barraquinhas de sucata e esmola.

Feira é um lugar em que as relações de confiança, por mais que estremecidas pelo comércio, ainda têm espaço. É um resquício de história, que não se curva à imponência dos shopping centers. As feiras persistem na cidade, nos bairros. A feira que tem perto da minha casa às quartas-feiras é mais do que um lugar onde se pode encontrar vegetais frescos ou frutas da estação a preços módicos. É onde a senhora solitária que mora a duas ruas da minha vai para ver passar as crianças da vizinhança, pra ver passar sua juventude, quando ela mesma ia roubar uns cachinhos de uva verde da barraquinha do seu Chico. É onde a minha mãe fica devendo oito reais porque esqueceu a carteira em casa e o camarão não pode ficar pra semana que vem, a dívida pode. É um local de encontro de todo o pessoal do bairro, dos que acordam cedo só pra comer um pastel com caldo de cana, com tempero de feira local.

As feiras se perpetuam pela necessidade de comércio, de dinheiro. Mas ainda sustentam relações informais de convívio e de fraternidade, apoiadas em um saudosismo de uma época que talvez nunca tenha sido, mas que a cada dia de feira permanece mais viva na lembrança dos freqüentadores.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Dia de Feira Recomenda #1

Feira de São Cristovão


“O maior Nordeste fora do Nordeste”. É assim que se auto-intitula a tradicional Feira de São Cristovão, abrigada no Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestina, no Campo de São Cristovão. A feira surgiu a 62 anos atrás, quando caminhões pau-de-arara chegavam ao Campo de São Cristovão trazendo retirantes nordestinos para trabalhar na construção civil, proporcionando animados reencontros de parentes e conterrâneos, com muita música e comida nordestina.

Hoje ela conta com cerca de 700 barracas fixas que oferecem várias modalidades da cultura nordestina: culinária, artesanato e música. Restaurantes intercalam-se com barraquinhas de cds e dvds, que por sua vez intercalam-se com lojas que vendem de berrantes a esculturas nordestinas. E nas extremidades do pavilhão, dois palcos garantem forró arretado para não deixar ninguém parado, mesmo que você não saiba dançar (eu não sei, toca ae o/).

A feira funciona no seguinte esquema: de terça a quinta-feira os restaurantes abrem para almoço e na sexta-feira, a partir das 10h, todas as outras barracas funcionam interruptamente, até as 22h de domingo. O pavilhão conta com estacionamento e a entrada tem o custo simbólico de R$1,00.

Endereço: Campo de São Cristovão
Visitação: Terça-Quinta, 10-16h, Sexta, a partir das 10h às 22h de domingo.



Feira do Lavradio



Com 11 anos de existência, a também conhecida como Feira Rio Antigo, organizada pela Associação dos Antigos Comerciantes do Centro do Rio, com o apoio da Subprefeitura do Centro, é uma feira de antiguidades que reúne mais de 350 expositores na Rua do Lavradio, Centro do Rio de Janeiro. Nela são vendidos móveis, objetos de decoração e artesanato, e oferecidos serviços de restauração de mobiliário, consertos de lustres, estofamento, etc. Mantendo a importâcia cultural do local, a feira também promove diversas atividades de caráter artístico, como apresentações de música clássica, MPB, exposições e números de dança.
Funcionando todo o primeiro sábado do mês, de 10h às 18h, a feira acaba servindo como ponto de encontro entre amigos que de lá partem para aproveitar a noite nos arcos da Lapa. É uma boa dica.

Endereço: Rua do Lavradio (entre a Visconde do Rio Branco e a Av. Mem de Sá)
Visitação: Sempre no primeiro sábado do mês, das 10h às 18h.


Feira Hippie Ipanema



Com mais de 30 anos de existência e localizada na Praça General Osório, a Feira de Artesanto de Ipanema atualmente é reconhecida internacionalmente como um dos principais pontos turísticos do Rio de Janeiro. Frequentada por turístas e cariocas, nela pode-se encontrar os mais variados artigos e tipos de presentes, de roupas de couro a instrumentos musicais, a preços que variam do acessível aos “pra turista”. Ainda que não se pretenda comprar nada, a feira ainda representa um ótimo passeio para um dia de domingo devido a beleza da área e sua proximidade da praia.

Endereço: Praça General Osório, Ipanema.
Visitação: Todo domingo, das 8h às 19h.


Feira Hype


Inspirada nas principais Feiras Culturais das grandes cidades do mundo, como Portobello Road (Londres) e El Rastro (Madri), a Babilônia Feira Hype surgiu em 1996, no Parque do Flamengo, e hoje encontra-se instalada no Jockey Club Brasileiro, na Tribuna C, com o apoio da Prefeitura do Rio através da Secretaria de Cultura/ Fundação Rio Arte / RIOTUR. Lá você encontra a presença de artistas e personalidades do meio cultural brasileiro, junto a cidadãos menos celebres, todos atrás de peças de Moda, Arte, Decoração, Gastronomia, Cultura e Variedades nos cerca de 200 expositores. Uma versão menor da feira também pode ser encontrada na Barra da Tijuca no Hipermercado EXTRA 24h, na Avenida das Américas 1510.

Endereço: Jockey Club Brasileiro – Rua Jardim Botânico, Tribunas B e C / Hipermercado EXTRA 24h – Avenida das Américas 1510, Barra da Tijuca.
Visitação: Edições quinzenais.

Dia de feira #1 - Feira da Praça XV (Cont...)


Ela vende o que todos precisam


— Pra tirar foto são 100 reais. E não vai tirar foto do que essa barraca tem de mais bonito? Eu! – disse a vendedora de uma tenda, enquanto passávamos filmando a feira.

Brincadeiras como essa fazem a barraquinha de Rose Duarte de Paiva se destacar no meio do mar de antiguidades e quinquilharias da Feira da Praça XV. Depois da filmagem, voltamos para conversar com a vendedora descontraída e, claro, tirar uma foto do que barraca tem de mais bonito.


O que a barraca tem de mais bonito

Rose brinca com todos que passam em frente a sua tenda, onde vende de tudo, de bijuterias a brindes de Kinder Ovo, passando por Playboys antigas, molduras diversas e uma cabeça de cavalo de gesso medindo quase meio metro de altura. “Eu vendo tudo o que todos precisam”, diz. Dos que passam, alguns são compradores antigos e ela cochicha em nosso ouvido a história do transeunte: “Esse aí, tadinho, queria comprar um anel de prata, bonito, de uns setenta reais. Ele só tinha cinqüenta. Vendi. Imagina se eu vou deixar o homem sair da feira sem esse anel?” explica Rose enquanto o homem negro e baixo se aproximava acompanhado da irmã para agradecer a vendedora mais uma vez. “Ih, esse aí vai voltar sempre agora.”, diz balançando as dezenas de pulseiras que carrega nos braços.

Assim foi a nossa longa conversa com Rose, entrecortada por diversos compradores que a agradeciam e comentavam a bondade da vendedora. “Eu, graças a Deus, vendo porque quero, porque é meu carma” afirma. Ela gosta do jogo de sedução que envolve uma venda. “Eu gosto de vender ilusões”, diz, contando que tem alma “meio-cigana”, “por isso que eu uso esses vestidões. O pessoal até acredita!”.

Segundo ela, cada objeto tem histórias e sentimentos que foram destinados ao comprador. “Como eu posso interferir na vida de outra pessoa assim? Vai ver aquilo é o que ela buscou a vida inteira!” afirma e emenda na história de um “homem feito” que achou em sua barraca um tazo que procurava há sete anos. “Ele me abraçou tanto, me beijou tanto, queria me oferecer não sei quantos reais. Mas não, aquele tazo era pra ser dele. Dei.” Esse desprendimento que Rose tem em relação aos artigos que vende pode se dizer que é característica única na Feira da Praça XV. Os vendedores tripudiam dos corações (e dos bolsos, principalmente) dos colecionadores aficionados que não medem cifras para ter mais um item de sua coleção.

Ela conta a história de uma senhora que foi à Feira no seu aniversário de oitenta e dois anos e se apaixonou por um conjunto de brincos com colares prateados, cravados com algumas esmeraldas e “um detalhezinho de rubi, muito chique mesmo”. Mas seu dinheiro tinha sido gasto em outros presentes e pediu que Rose guardasse o conjunto que semana que vem ela voltaria e o compraria. Conversaram muito: a senhora era de Paquetá, tinha sido muito rica quando casada com um militar da aeronáutica, mas perdeu toda a fortuna e agora vivia sozinha de forma modesta. Enquanto conversavam, Rose pegou as jóias, embrulhou em um pacotinho e quando se despediu, entregou-o à senhora, que ficou muito emocionada. Na semana seguinte, lá estava ela de novo na feira, mais uma vez na barraca de Rose, acompanhada de uma mala com muitos itens de valor, “até mesmo canetas Parker!”, que deu para Rose, afirmando que ela era uma das melhores mulheres que conhecera.

Mas Rose também vende. E pechincha. Enquanto conversávamos um senhor parou perguntando o preço de uma moldura dourada de mais de 50cm de altura. Ela sorriu e informou: 200 reais. O senhor vestia um boné que tinha um óculos escuros acoplado na aba, provavelmente aquisição da Feira. Contorceu a boca, agradeceu com a cabeça e se virou. Em breve ele voltaria, pronto para barganhar: “Qual o seu preço mínimo?”. Rose não titubeou: “Pro senhor, com um chapéu bonito desses, 150 reais!”. O senhor resmunga mais um pouco, fala do martírio que é ter bom gosto, explica que é pintor de borboletas e se chama Leonardo. Ao longo da conversa, ele conta que é diretor do Hospital Pró-cardíaco, no Humaitá e já tratou artistas renomados como Di Cavalcanti. “Recusei tela dele por falta de espaço... Quanto vale uma dessas hoje em dia, imagina?”. O Sr. Leonardo sai carregando a moldura no ombro, como se seu braço fosse uma pintura viva enquadrada. “Vou-me embora antes que ela me faça pagar os outros cinqüenta reais!”.

Rose tem dez anos de Feira e conta que nunca deixou de montar ali sua barraquinha, nem mesmo enquanto lutava contra um câncer que a obrigou a mastectomizar um seio. Ela afirma que a doença foi desenvolvida em razão da tristeza que acumulou nos anos em que trabalhou em orfanatos, onde presenciava o descaso e a corrupção das entidades constantemente. “Se a gente quer ajudar alguém nesse país, tem que fazer sozinho. É assim que eu resolvi fazer” afirma Rose. Dessa forma, ela começou a ajudar sessenta crianças no bairro de Piedade. Na Feira, ela está sempre pedindo aos conhecidos que lhe tragam brinquedos “porque as minhas crianças adoram”. Além das sessenta crianças que ajuda, Rose tem 21 sobrinhos, um brechó e uma empresa de limpeza. É casada e sua única filha, Mariana, tem 23 anos.

Terminamos nossa conversa prometendo voltarmos semana que vem, com brinquedos. Gostei de um anel à mostra na barraca. Perguntei o preço. Rose pegou o anel e, conversando comigo, foi colocando-o em meu dedo. Quando ele entrou, coube certinho: “Esse anel foi feito pra você!”. Eu fiquei bem feliz, porque tenho dedos grossos, não é fácil achar anéis que caibam tão perfeitamente. Pedi pra ela guardar que semana que vem compraria. Claro que não, Rose nem tirou o anel do meu dedo e repetiu “ele foi feito pra você!”. Agradeci, dei uma grande abraço naquele figura pequenina no que ela me responde: “Que isso, não agradece uma coisa tão espontânea assim. Esse anel ainda vai ter dar muitas felicidades!”, profetizou nossa cigana da Praça XV.

Aqui um vídeo, à la Tapa na Pantera, no qual Rose explica porque vende o que vende, como vende e porque vende na Feira da Praça XV, Rio de Janeiro.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Dia de Feira #1 - Feira da Praça XV


Sábado. Sete horas da manhã. Formando cerca de quatro corredores largos e paralelos de bancadas, lonas e pessoas, as humildes barracas terminam de tomar conta da extensão sob o viaduto da Perimetral que vai da Praça XV, na altura das barcas, até a área em frente ao Museu Histórico Nacional. Enquanto algumas poucas tendas se encontram com suas mercadorias devidamente expostas, à espera de ávidos compradores, a maioria ainda está vazia. Frágeis estruturas de madeira terminam de serem montadas aqui e ali; bancadas são forradas por plásticos e toalhas de mesa coloridas ou estampadas; grandes maletas, bolsas e caixas de papelão são carregadas para todas as direções e seus interiores são pouco a pouco esvaziados pelos vendedores. Na ponta dos corredores mais próxima da área das barcas, vans descarregam engradados de cerveja e refrigerante, mesas e cadeiras são espalhadas por um largo espaço vazio e um senhor arruma diferentes garrafas de molhos enquanto um rapaz caminha em sua direção, abraçado a quatro enormes sacos de pães. Vinte minutos depois, o gari termina de atender aos últimos pedidos de limpeza, as cadeiras de praia dos vendedores são abertas atrás ou ao lado das bancadas e a chaminé do forno com rodinhas, próximo a placa “pizzas e empada na lenha”, solta seus primeiros sinais de fumaça: a tradicional Feira da Praça XV já está a todo vapor.



Ao entrar na feira surgida em meados da década de 70, quando era conhecida como Feira de Trocas, a primeira coisa que salta aos olhos é a variedade de objetos que ela oferece ao seus visitantes: roupas, sapatos e chapéus; cds, vinis, dvds e fitas cassete; cartões postais, selos e moedas de diferentes países; livros usados, revistas em quadrinhos antigas e velhas edições da extinta revista Manchete; enfeites de cerâmica, madeira e plástico; molduras e pinturas; pratarias, jogos de pratos e faqueiros; telefones e radinhos a pilha retrôs; qualquer artigo relacionado à Coca-Cola e à Pepsi; artigos militares, como capacetes, jaquetas camufladas, canivetes, facas e insígneas; artigos futebolísticos como camisetas, broches, cartões, faixas e antigas entradas para finais de copas do mundo; brinquedos, muitos brinquedos, dos mais variados tipos, tamanhos e idades. Novos ou usados, todos esses artigos estão espalhados pelas mais de 50 barraquinhas e bancadas do local, tornado dificil uma caminhada de mais de 5 minutos sem que você esbarre em pelo menos uma coisa que PRECISE comprar.









Os preços das peças em geral são bem acessíveis, mas variam bastante. Pode-se sair de lá com mais de 5 artigos gastando um total de 10 reais, ou uma única peça comprada por mais de 200 reais. De qualquer modo, “negociação” é palavra de ordem na dinâmica da Feira da Praça XV. Sem dinheiro? Nenhum problema. É corriqueiro encontrar vendedores dispostos a trocar qualquer tipo de item por algum que você ofereça. Com um pouco mais de tempo e atenção é possível encontrar verdadeiros tesouros e relíquias, e levá-los para casa por um custo ínfimo. Em parte, isso é explicado pelo perfil da maioria dos vendedores do local:

- Muitos dos vendedores da feira vendem objetos por necessidade. É possível encontrar alguns vendedores profissionais, mas a maioria é amadora: um dia vendem uma coisa, outro dia outra. Não há especialização. São pessoas que já tiveram uma boa situação financeira algum dia e agora, pela necessidade, se desfazem das posses de suas famílias. Mas é dificil haver algum feirante que vive só da feira. Muitos possuem outra renda, como aposentadorias _ explica Serge Michel, francês e um dos poucos feirantes “profissionais” especializados. Ele trabalha na feira há 10 anos e hoje vende exclusivamente artigos militares, como capacetes, máscaras de gás, medalhas, etc.

Mais do que objetos, muitas das barraquinhas parecem vender pura nostalgia. A quantidade de brinquedos e artigos antigos é tão absurda que a possibilidade de, a cada dez passos, você encontrar algo que fez parte da sua infância é imensa. Você está andando distraídamente e BANG! Lá está aquele super castelo dos Thundercats que seu vizinho tinha e que você sempre invejou. Vira-se para a esquerda e encontra toda a coleção de leõezinhos de Kinder Ovo pelos quais você sempre esperava que viessem como surpresa. Vira-se para a direita e lá está um balde repleto por geloukos roqueiros da Coca-Cola por módicos 50 centavos cada. Dez metros a frente e você esbarra com uma caixa repleta de bonecos Comando em Ação e SOS Comandos, juntos a dezenas de arminhas e equipamentos de guerra. É de querer levar tudo pra casa, espalhar pelo chão da sala e começar a brincar. Acredito ser obrigação de todo pai levar seu pequeno pelo menos uma vez na vida nessa feira: você poderá empanturrá-lo de bonecos e carrinhos gastando no máximo uns 10 reais e evitar que ele abra o berreiro na próxima visita ao shopping porque cismou que quer um novo brinquedo qualquer.



Se depois de toda a andança, barganha e nostalgia você estiver com fome, é só se dirigir para a “praça de alimentação”, na ponta da Praça XV da feira. Lá você encontra refrigerantes, pizzas, empadas, biscoitos e sanduíches de línguiça e cebola (cozinhadas na água para ficarem mais sequinhas). Enquanto se alimenta é possível sentar-se à uma das mesas espalhadas por ali, descansar as pernas, fazer um balanço do que você já comprou e do que ainda falta.





A Feira da Praça XV não é programa para um dia só. Ela começa a ser montada por volta das 5h da manhã, todo o sábado, e rola até umas 14h da tarde. As chances de encontrar verdadeiros tesouros são maiores quanto mais cedo você chegar. É impressionante a sensação de que quanto mais coisas você encontra, mais tem para encontrar. Por isso, é altamente recomendável fazer de sua visita ao local um hobby. Na pior das hipóteses, a feira é sua chance de se livrar daquele monte de tralha que você insiste em guardar em caixas em cima de algum armário. Lá você não só poderá conseguir algo útil em troca, como possívelmente verá alguns filmes mentais sobre a sua infância.